
Morre Raimundo Nonato, o guardião do Teatro Amazonas
Com cinco décadas dedicadas ao principal símbolo da cultura amazonense, Raimundo Nonato Pereira do Nascimento, carinhosamente conhecido como “Seu Nonato”, faleceu nesta terça-feira (3), aos 89 anos. Sua história está entrelaçada à do Teatro Amazonas, onde atuou por mais de 50 anos em diversos papéis, sempre com amor, dedicação e profundo respeito à arte. Nascido […]
Com cinco décadas dedicadas ao principal símbolo da cultura amazonense, Raimundo Nonato Pereira do Nascimento, carinhosamente conhecido como “Seu Nonato”, faleceu nesta terça-feira (3), aos 89 anos. Sua história está entrelaçada à do Teatro Amazonas, onde atuou por mais de 50 anos em diversos papéis, sempre com amor, dedicação e profundo respeito à arte.
Nascido em 26 de fevereiro de 1935, filho de um ajudante de pedreiro e de uma lavadeira, Seu Nonato começou sua trajetória no Teatro Amazonas em 1973, contratado para trabalhar na reforma do edifício centenário. Foi pedreiro, ajudando a recuperar a cúpula e assentando o piso de mármore do hall de entrada, que permanece preservado até hoje. A partir dali, nunca mais deixou o local que viria a chamar de casa.
Durante mais de cinco décadas, exerceu diversas funções no Teatro, entre elas as de porteiro, bilheteiro, indicador, assistente técnico, agente administrativo e cenotécnico. Ganhou dos colegas o apelido de “coringa do teatro”, tamanha sua versatilidade e comprometimento. Seu lugar preferido, no entanto, era o palco, de onde dizia aprender todos os dias, com cada ensaio, espetáculo e montagem.
O secretário de Estado de Cultura e Economia Criativa, Caio André, lamentou a perda e destacou o legado deixado por Seu Nonato. “Uma figura icônica, que dedicou a vida à cultura do Estado. Ele deixa um legado majestoso para o Teatro Amazonas e para a história cultural do nosso povo. Nossos sentimentos à família e aos amigos”, declarou.
Em 2019, Seu Nonato foi homenageado durante a abertura do 22º Festival Amazonas de Ópera. Uma placa com seu nome foi instalada na galeria do Teatro, ao lado de grandes nomes da cultura amazonense. Dois anos depois, sua trajetória virou objeto de estudo acadêmico. O artigo “Raimundo Nonato: Um conhecimento técnico construído na prática e no amor ao Teatro Amazonas”, publicado na revista Luz em Cena, da Universidade do Estado de Santa Catarina, destacou sua contribuição como trabalhador autodidata e símbolo de resistência e afeto.
Entre as muitas histórias que protagonizou, recordava com orgulho o dia em que substituiu um colega receoso de lidar com uma pedra de mármore. Sua habilidade surpreendeu tanto que lhe renderia um aumento de salário. Também guardava com carinho a ocasião em que foi anfitrião do então presidente João Figueiredo, nos anos 1980. “Eu era o único preto no meio dos brancos. Quando ele me cumprimentou, fiquei muito feliz”, costumava dizer. Em outro momento marcante, presenciou a visita do então príncipe Charles, hoje rei do Reino Unido, que chegou sorrindo ao palco e abraçou as funcionárias da limpeza.
Seu Nonato parte deixando não apenas memórias, mas uma presença permanente nos bastidores, nas coxias e na alma do Teatro Amazonas. Sua voz, sua história e sua dedicação seguem vivas nas paredes que ajudou a restaurar e conservar.
Velório e sepultamento
O velório será realizado nesta terça-feira (3), a partir das 10h30, no próprio Teatro Amazonas. O sepultamento ocorrerá na quarta-feira (4), às 10h, no Cemitério Recanto da Paz, no município de Iranduba, região metropolitana de Manaus.
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